Greve dos caminhoneiros: Como os diretores de logística estão lidando com a crise?
A situação das empresas brasileiras após o 4° dia de greve dos caminhoneiros não está nem um pouco fácil. A cadeia de combustíveis é a que mais está sofrendo, mas no fogo cruzado já temos problemas sérios na distribuição de alimentos e outros insumos. As companhias que operam em todo o País tiveram uma manhã recheada de reuniões emergenciais de crise. Para saber os detalhes sobre como os líderes de supply estão recebendo os impactos do problema, conversei com alguns diretores de grandes empresas brasileiras e multinacionais. Vamos ver o resultado.
O Thiago Rodrigues, vice-presidente de logística da Schneider Eletric para a América do Sul, conta que precisou paralisar o faturamento da empresa ontem. As duas transportadoras com que ele trabalha não conseguem retirar caminhões do pátio porque não têm combustível. Mas o problema não está só na saída. Na entrada, ele diz que não consegue tirar containers do Porto de Santos há três dias.
Ele explica que mesmo com a trégua o faturamento da empresa no resto do mês de maio para o norte e nordeste está perdido, já que não dá mais tempo de chegar aos destinos. A administração não teve alternativa a não ser praticamente paralisar as operações e esperar.
O diretor de logística de uma multinacional que opera em mais de 150 países, que pediu para não ser identificado, disse que a situação está muito crítica hoje. Estão com falta de insumo, caminhões e fábricas parados. E a maior preocupação no momento é com o desafio para normalizar os serviços depois da greve. “Não é que vai acabar a greve e a gente volta a ter uma vida normal amanhã. Vai demorar de 15 a 30 dias para normalizar tudo. Tenho entrega que era para segunda-feira e ainda não foi feita.”
Em setores onde a falta de insumos é uma questão de saúde, como nos hospitais, o problema ainda não chegou, mas já está por ali na espreita. O João Fábio, COO da Beneficência Portuguesa, disse que os seus fornecedores emitiram hoje um alerta de risco de atraso. E outra preocupação para os hospitais é também a possibilidade da falta de combustível para os geradores. No momento, ainda não é um problema, mas pode se tornar um muito sério caso a greve continue nos próximos dias.
Mas afinal, quem tá errado e quem tá certo nessa história?
Por incrível que pareça, é difícil apontar quem está errado nessa crise. Os caminhoneiros são os responsáveis pela paralisação, mas se formos olhar os envolvidos, cada um tem o seu para defender.
O governo não pode perder receita reduzindo imposto porque está deficitário (apesar de ter como balancear com o fim das desonerações), a Petrobras se não seguir a precificação internacional passa a ter prejuízo na operação e fica mal vista no mercado estrangeiro. E o caminhoneiro, você deve estar pensando? Desde que está valendo a nova política de preços da Petrobras, o aumento do diesel foi de 59,3%. Advinha só quem está pagando essa conta?
Conforme as conversas que tivemos com diretores de grandes empresas, os contratos de fornecimento não preveem ajuste diário de preço dos fretes como acontece com os combustíveis. Assim, a conta tem ficado em parte com as transportadoras de grande porte e em parte com os caminhoneiros autônomos contratados por elas. Não é à toa que ontem à tarde as transportadoras aderiram oficialmente à greve.
Não é simples, né.
A questão agora é esperar pelo resultado do acordo temporário. Será que o governo vai conseguir zerar o PIS/COFINS do diesel? Vai depender do Senado. Até o fim dia, muita coisa vai rolar. Vamos ver.
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