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Transformação Digital desmistificada

Por William Juliano, professor da Live University

Transformação digital: essa é a “onda” do momento. O tema está presente em praticamente tudo o que vemos, ouvimos e lemos. Entretanto, seus fundamentos ainda não são totalmente entendidos e bem definidos. Se perguntarmos para duzentos CEO’s o que é transformação digital, teremos duzentas respostas diferentes.

De um modo geral, empresas sempre mudaram e adaptaram seus processos de negócios, seja para se adequar às alterações de mercado ou como estratégia para diversificar, crescer, expandir e, naturalmente, aumentar o retorno aos seus acionistas. A diferença da realidade atual, comparada há uma década, é a velocidade com que essas mudanças precisam acontecer.  Note bem: “precisam acontecer”, em vez de “podem acontecer”.

A maioria absoluta dos negócios – independentemente do tamanho e segmento – está planejando ou executando projetos com o objetivo de aumentar o uso e a aplicação de tecnologias digitais. E muitas empresas ainda “pecam” em um quesito essencial: transformação digital não é uma discussão de tecnologia. É uma discussão de negócios.

Entra em cena a ‘disrupção’. Há muitos exemplos de empresas que tiveram seus modelos de negócios significativamente impactados, principalmente com o surgimento de players que atendiam a novas demandas de clientes com tecnologias inovadoras. Uma tecnologia que não traz algum tipo de resultado não tem utilidade. Tecnologia precisa ser o meio, não o fim.

A jornada de transformação digital de um negócio deve ser encarada como um programa, e não um projeto. A diferença entre os dois é gigantesca. Enquanto um projeto tem começo, meio e fim, um programa é uma sequência de projetos – que não acabam. Muitos questionamentos podem ser feitos na criação desse programa. Vamos transformar o negócio atual ou construir um novo? Devemos focar em engajamento de cliente ou reduzir custos? E muito embora essas perguntas sejam válidas, o sucesso do programa se deve, necessariamente, ao engajamento do board e da liderança da empresa.

Uma transformação digital pragmática começa com o entendimento da forma como o cliente compra. Hoje os sites de busca são, muitas vezes, a forma mais natural de iniciar uma compra, em vez de uma visita a loja física. Hoje, as pessoas se conectam, trocam opiniões e fazem críticas nos diversos canais online. A mesma dinâmica ocorre no universo B2B: há um aumento espantoso das plataformas de e-procurement, por meio das quais as empresas buscam reduzir custos, ganhar produtividade e melhorar a qualidade de seus suprimentos.

Outra dimensão importante: os concorrentes. Quem são eles, além dos concorrentes tradicionais? A indústria automobilística, por exemplo, acompanha de perto o aumento do uso de aplicativos de mobilidade urbana, a exemplo do Uber, Cabify, e tantos outros. Muito embora o Uber não fabrique automóveis, o modelo de negócio trouxe grandes mudanças no comportamento das pessoas e seus hábitos de consumo.

Inovação: outro “componente” primordial. O conceito do MVP (Minimum Viable Product, ou Produto Mínimo Viável) está gradualmente chegando nas grandes corporações. Em vez de investir milhões de reais em um novo produto que “pode” dar certo, empresas devem se habituar a testar, experimentar e aprender constantemente. Deve investir, sim, em inovações que se provem viáveis - pela experimentação. E é necessário abandonar, rapidamente, produtos e serviços que não têm chances de vingar no mercado.

O componente humano também deve ser considerado em todo o processo. É fundamental que a jornada de transformação utilize, em sua base, as técnicas de GMO (Gestão de Mudança Organizacional).  Essa gestão começa com o reconhecimento da empresa na necessidade de mudar, tratando de todos os aspectos de comunicação, liderança, treinamento, engajamento, gestão de expectativas, alinhamento dos stakeholders.

Transformação digital não é um exagero, mas, sim, uma estratégia de sobrevivência, crescimento e expansão. Empresas que ignorarem essa tendência desaparecerão. O programa de transformação exige sacrifícios, trade-offs e decisões de negócio, que vão muito além da tecnologia.

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