A revolução da indústria 4.0 é definida pela capacidade das máquinas se comunicarem diretamente com máquinas, sem intermediação humana. A sua geladeira, por exemplo, muito em breve poderá identificar os produtos que estão em vias de acabar e realizar um pedido automaticamente ao seu supermercado favorito.
Essa é uma das aplicações da chamada Internet das Coisas (IoT). Tecnologias como essa e outras envolvendo aplicação de Inteligência Artificial já estão tornando possíveis cadeias de suprimentos flexíveis e de baixo custo, rastreabilidade de ponta a ponta dos produtos e muito mais. Entrevistamos 6 especialistas para entender como as cadeias de suprimentos já estão se revolucionando. Você não pode deixar de conferir.
Donald Neumann - Partner, Data Science & Supply Chain Management na CTI Global
Ricardo de Paula - Head de Supply Chain na Leroy Merlin
Andre Cordeiro, Diretor Global de Supply Chain da Nidera
Rodrigo Parissoto - CIO Via Varejo
Thiago Rolemberg - Cientista de Dados e Professor da Live University
Carlos Martins - Diretor de Supply Chain da Tereos
Para saber mais sobre este assunto e vários outros, você não pode deixar de conferir o Supply Transformation, que acontecerá no dia 15 de maio aqui na sede da Live University. O evento será o terceiro dia da Maratona de Supply Chain, que acontece nos dias 13 e 14 de maio. Confira a programação por aqui!
Quando você fala em indústria 4.0 e supply chain 4.0 a principal diferença que tenho observado é que a dicotomia entre a flexibilidade e o custo está sendo diluída. Até um tempo atrás a gente tinha de definir estrategicamente se uma cadeia teria foco em custo, então você penalizava a flexibilidade com técnicas de lean, por exemplo, ou uma cadeia flexível, na qual o seu custo é muito mais alto. Com a chegada de tecnologias como a impressão 3D, a internet das coisas, essa contradição entre custo e flexibilidade tem se diluído. Então temos conseguido tornar as cadeias muito mais flexíveis, e ao mesmo tempo com custo bastante baixo. Isso possibilita a geração de cadeias bastante ágeis que reagem rapidamente as mudanças de comportamento do consumidor. Essa é a primeira e principal mudança, sem mencionar temas como o da rastreabilidade, que tem aplicações de blockchain.
O S&OP vai tratar cada vez mais de questões de capacidade e infraestrutura de longo prazo e cada vez menos do plano de vendas e do plano de operações. O S&OP mensal acaba se tornando, num contexto onde o comportamento do consumidor muda bastante, lento. Você não pode esperar um mês para fazer o seu plano de vendas e operações ou para mudar ele e depois executar. Uma cadeia cognitiva ou uma cadeia 4.0 tem a capacidade de perceber as variações no comportamento do consumidor e se ajustar rapidamente, ou seja, o ciclo integrado do planejamento de vendas, marketing e operações se torna muito mais curto no limite online e não somente uma vez por mês. Sobram para o S&OP discussões um pouco mais de longo prazo, voltadas para o controle e formação de infraestrutura para capacidade. As decisões que estavam no S&OP, muitas delas relativas a planejamento de vendas e operações, serão automatizadas, como, por exemplo, uma definição de campanhas de marketing. Você pode usar robôs para isso, e desdobrar na sua cadeia, otimizando-a, mantendo o custo baixo e o estoque baixo. O S&OP nesse sentido vai se acelerar e você vai ter “S&Ops” que rodam diariamente online.
A mudança organizacional vai ser drástica. A partir do momento que você tem cadeias flexíveis e ágeis capazes de reagir à mudança no comportamento do consumidor, toda a parte de operações se torna mais focada no consumidor final. Você não tem mais uma cadeia desacoplada entre vendas e marketing e operações, geralmente com um estoque ou um pedido no meio, mas uma cadeia fortemente acoplada que precisa garantir a integração entre a operação entre a parte de vendas e marketing de forma muito mais ágil. Eu tendo a ver muito mais equipes multidisciplinares cuidando de temas específicos do consumidor do que equipes funcionais como a gente tem hoje de vendas, marketing, operações e finanças. Essas estruturas já existem em empresas de tecnologia, então quando você pega cadeias de tecnologia, até mesmo cadeias de distribuição como a da Amazon, você volta suas equipes para sistemas multidisciplinares responsáveis por atender parte dos problemas do consumidor e não mais equipes separadas funcionalmente. Eu acho que a tendência é caminharmos nessa direção num conceito muito mais de equipes ágeis e uma estrutura de tecnologia baseada em nível de serviço e agentes capazes de colocar um produto rapidamente na prateleira, reagindo ao comportamento do consumidor, do que toda essa estrutura segmentada como temos hoje, em que marketing define produto, vendas sai fazendo promoções, e tudo isso é desdobrado para a cadeia.
Haverá maior integração das Cadeias de Suprimentos das empresas, pois uma gestão eficiente deve considerar os fluxos internos e externos, pois é de suma importância envolver os parceiros, fornecedores e clientes. É importante que haja integração dos processos entre os envolvidos, para que as cadeias de suprimentos de ambos sejam otimizadas e se completem.
É necessário que exista uma comunicação eficaz entre as áreas envolvidas na empresa, consequentemente forte planejamento e posteriormente desdobramento das informações e ações junto aos seus fornecedores. Construção de informações, KPI's atualizados e assertivos. O planejamento da demanda e integração das cadeias de suprimentos é fundamental.
Trabalhar fortemente a liderança 3.0. Líderes e liderados trocam informações de forma constante, trabalham em rede, buscam novidades tecnológicas do mercado, "quebra de modelo mental", necessidade de renovar o modelo existente na empresa, e principalmente entender a necessidade/demanda do cliente. O foco deve ser o cliente, pois através dele são desenvolvidos projetos de melhorias contínuas, e a tecnologia é fundamental para que seja possível esta evolução. Supply Chain e TI estão fortemente ligadas.
As principais transformações nas cadeias de suprimentos na era da Industria 4.0 estão associadas as potenciais contribuições das novas tecnologias digitais que podem adicionar valores significativos para os negócios, particularmente novas formas de influenciar os diferentes comportamentos de compras dos clientes chaves, colaboração com os fornecedores críticos, maior visibilidade dos possíveis cenários da demanda bem como ganhos de produtividades dos processos e operações através do desenvolvimento das competências de Data Science, sistemas com Inteligência Artificial / Machine Learning, sistemas dinâmicos de modelagem de SC Network Design.
As transformações digitais devem vir obrigatoriamente acompanhadas da capacidade de transformação da cultura e desenvolvimento das novas competências requeridas. Portanto o gerenciamento das mudanças deve ser liderado como um elemento vital para possibilitar a transformação digital requerida para suportar a estratégia de negócios.
Através das competências de Data Science, Machine Learning e modelagem dinâmica da cadeia, o processo de S&OP pode ser transformado num fórum ainda mais estratégico para suportar melhores decisões de negócios no curto e longo prazo. As novas competências digitais devem antecipar com maior acuracidade os possíveis cenários de demanda e suprimentos a fim de estruturar análises comparativas (trade-off analysis) dentro de uma ferramenta de modelagem com ampla visibilidade dos impactos em toda cadeia no curto e longo prazos. A inteligência artificial ainda pode fomentar melhorias continuas através dos aprendizados dos processos decisórios.
Os profissionais de Planejamento, através da competência digital, devem desenvolver uma visão mais ampla das principais variáveis da cadeia de suprimentos associadas às implicações de negócios incluindo cliente, fornecedores e processos internos a fim de estruturar processos decisórios ágeis e flexíveis.
As estruturas organizacionais devem estruturar redes de relacionamentos com clientes, fornecedores e as áreas multifuncionais internas. Faz-se necessário migrar de uma estrutura organizacional hierárquica para uma rede de relacionamentos que contemple os processos decisórios necessários para suportar a execução do curto prazo bem como as entregas de longo prazo de acordo com a visão estratégica da organização.
O grande diferencial da Indústria 4.0 é o uso de tecnologias inovadoras que conectam quase tudo a sistemas de computador. A ideia é controlar o maior número de equipamentos, espaços e recursos com simples comandos em um software e automatizando processos.
Tecnologias exponenciais como Internet das Coisas — IoT (pautada na interação de máquinas, objetos, ambientes e veículos a sistemas), o Big Data Analytics (uso de dados para análise e gestão de informações), computação em nuvem (Cloud Computing), Machine Learning (Aprendizado de Máquina), Inteligência Artificial (IA), sem dúvidas irão beneficiar a cadeia de suprimentos e atender seus clientes usando, por exemplo, microssegmentação, agendamento de entrega sofisticado, personalização em massa. Na cadeia de suprimentos, a Inteligência Artificial poderá ser usada, por exemplo, em veículos autônomos para transporte de produtos e no controle de drones, para entregas.
O processo S&OP auxilia na estruturação de uma estratégia única e integrada da empresa, com alinhamento dos planos comercial e de capacidade de produção e distribuição. Ignorá-lo, ou fazê-lo de forma inconsistente, pode trazer impactos negativos para os demais agentes da cadeia e para a própria indústria. Entre eles, o dimensionamento inadequado de estoques para atender seus clientes (varejo, outras indústrias e distribuidores), a perda de share de mercado e até a inviabilidade total do negócio.
Com a economia globalizada e atuação conjunta entre as empresas, não dá mais para ser competitivo assumindo 100% dos processos de um negócio. É necessário contar com o apoio de parceiros, terceirizar tarefas e criar redes que garantam a máxima produtividade e eficiência para as operações. Supply Chain Management - SCM.
Nesse sentido, portanto, a tecnologia desponta como o principal caminho para essa modernização da SCM, automatizando processos, sincronizando dados, manufaturas, varejos, distribuidores e instituições financeiras em uma única plataforma. Com esse apoio é possível alinhar melhor as operações, compartilhar dados e documentos e, consequentemente, atender com mais eficiência o seu cliente.
Ao meu ver, existem alguns ponto extremamente importantes. Por exemplo, a utilização de Big Data e IoT trazem uma possibilidade grande de se entender toda a cadeia de produção, não mais com uma grande defasagem de tempo, mas agora com mais precisão e mais rápido.
Outro ponto interessante que pode já ser visto, é como grandes redes de supermercado já estão usando. Onde conseguem disponibilizar um aplicativo para o usuário e oferecer desconto no momento da compra. Isso a principio parece ser simples, mas vejamos alguns pontos que esses grandes mercados usam a Indústria 4.0:
Uma das principais implicações está ligada a capacidade e skills dos profissionais para lidar com esse mundo. Isso por que não estamos falando só do skill do time de analytics, estamos falando também do time operacional das pessoas que fazem o planejamento, que agora precisam também entender desse mundo novo para que se consiga atingir os melhores resultados. Não estou querendo dizer sobre desenvolvimento do modelo, mas, por exemplo, não se devem confundir previsão de demanda com previsão de capacidade.
Não acredito em uma mudança brusca na estrutura, porém acredito em um novo papel de um CDO (Chief Digital Officer), onde junto com os demais participantes irá conseguir dar essa tração de tecnologia dentro da cadeia de suprimentos.
Carlos Martins - Diretor de Supply Chain da Tereos.
Os avanços em IoT, Blockchain e Analytics trarão uma maior massa de dados, centralizada, atualizada com grande frequência, compartilhada e que será fonte de análises e decisões. Isso trará visibilidade ponta a ponta da cadeia de suprimentos e grande agilidade e assertividade na tomada de decisão. Além disso, acredito que as principais transformações serão o perfil dos parceiros de negócios (fornecedores de materiais, equipamentos e serviços, operadores logísticos e transportadoras, etc) uma vez que a tendência é que as indústrias avancem em uma velocidade maior rumo ao Supply Chain 4.0, já que em teoria elas estariam mais capacitadas a promover mais aceleração neste processo, abrindo um gap com seus parceiros de negócios.
As informações que alimentam o processo de planejamento serão cada vez mais granulares e assertivas. Isso vai exigir uma grande capacidade de armazenamento, manipulação e processamento para gerar insights na tomada de decisão. Consequentemente, as decisões a serem tomadas se tornarão cada vez mais complexas, o que vai exigir uma mudança de mentalidade da parte dos executivos, normalmente acostumados a tomada de decisão baseados em poucos fatos e muita experiência e sentimento. Esta maior quantidade de dados que precisarão ser considerados nas tomadas de decisão dos cenários de planejamento e a dificuldade de integrá-los aos fluxos tradicionais de S&OP trará novos desafios tanto em termos de ferramentas (sistemas de apoio à decisão) quanto de pessoas (necessidade de maior colaboração).
A definição de uma governança corporativa em relação a projetos de inovação garante que as áreas estão seguindo as boas práticas e compartilhando iniciativas que possuam sinergia transversal na organização. Áreas de TI precisam atuar como parceiros de negócios totalmente integrados às operações para que possam entender e atender às necessidades e a dinâmica da revolução tecnológica.