Em Israel o número de empresas focadas em inovação impressiona. O país é formado por pouco menos de 9 milhões de habitantes e consegue ter um dos maiores investimentos de venture capital per capita do mundo. Para efeito comparativo, a cidade de São Paulo tem hoje por volta de 12 milhões. Tendo em vista esse tamanho de mercado, as empresas israelenses já nascem desenvolvendo produtos e serviços globais. Prova disso é que Israel é o segundo país com maior número de companhias listadas na Nasdaq. Mas o que faz Israel ser esse celeiro de inovação?
Em agosto deste ano, fizemos o Supply & Procurement Experience Program, programa de intercâmbio promovido pela Live University com 25 executivos C-Level. Durante os dias em que estivemos lá, conhecemos diversas empresas e centros de inovação, o que fez com que vivêssemos essa realidade de incentivo ao desenvolvimento de novas tecnologias. O que essa experiência me fez compreender é que o sucesso de Israel está enraizado na cultura em três grandes pilares: necessidade, diversidade e chutzpah.
Veja só um exemplo claro de como a necessidade estimula o ambiente de inovação. Israel é um país formado por 60% de áreas desérticas, o que traz um problema sério de recursos hídricos. Para suprir essa necessidade, o país desenvolveu a maior usina de dessalinização do mundo, em Tel Aviv. Além da dessalinização, eles também criaram o maior sistema de reutilização da água com processo de logística reversa do mundo. E, atualmente, Israel trata de 80% a 90% da água de esgoto, que inclusive é utilizada para irrigar plantações no deserto. Essa e outras novas tecnologias
fizeram com que o país também contasse com uma agricultura bem desenvolvida - o que vai na contramão do que é naturalmente possível pelas condições do solo.
Mas não há nada que exemplifique melhor essa cultura de inovação do que o Chutzpah. Quase que uma antítese do Homem Cordial cunhado por Sérgio Buarque de Holanda, a palavra de origem Iídiche (dialeto alemão falado pelos judeus europeus) é uma característica comportamental israelense que significa audácia, atrevimento e um desafio constante do status quo. Em outros lugares (como o Brasil) isso pode até soar arrogante, mas em Israel esse comportamento está no centro de uma cultura que estimula o pensamento criativo e a tomada de riscos.
Essa característica cultural está em todas as instâncias de uma sociedade que se empenha em inovar. E atrelado a isso, existe um ecossistema formado por investimento forte em educação, governo orientado para inovação e investimento do setor privado. Inclusive, muitas empresas, conhecidas como aceleradoras, investem e apoiam o crescimento de startups no país.
A realidade na educação é muito inspiradora e demonstra bem esse ecossistema de Israel. As universidades têm centros inovação e fazem parceria com empresas. Dessa forma, muitas das pesquisas e projetos desenvolvidos recebem royalties e alguns, inclusive, são ganhadores do Prêmio Nobel. De acordo com o Relatório Global de Competitividade de 2018 do Fórum Global Econômico, Israel é o país que mais investe em Pesquisa e Desenvolvimento, totalizando 4,3% do seu PIB.
Diante desse cenário de estímulo à inovação, como aplicar tal modelo no Brasil? Infelizmente, nossa realidade política e educacional ainda não comporta esse tipo de ecossistema. Porém dentro das empresas é possível sim aplicar essas lições, criando uma cultura interna de inovação em todos os seus níveis. E os empresários brasileiros, principalmente, devem estimular que seus funcionários tenham sempre dentro de si o chutzpah israelense – a audácia e coragem de desafiar paradigmas e pensar em novas soluções. Agora confira os melhores momentos desta jornada:
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*Alex Leite é Diretor Educacional da Live University e Mestre em Administração, com formação executiva em planejamento estratégico avançado pela UC Berkeley e MBA em Gestão de TI. Alex gerenciou grandes projetos em organizações como 3M, Editora Abril, Gerdau, Itaú, Telefônica, Oxiteno, Petrobras, Natura e TIM.