A transformação digital também está chegando para a área de Compras. Automatização de rotinas, digitalização de processos e aplicação de novas tecnologias. Para entender o que está em jogo e que competências serão exigidas do profissional de procurement, entrevistamos Diretores de Compras e Especialistas no assunto. Confira!
Para saber mais sobre o assunto, você pode ainda se aprofundar com a capacitação de dois dias Compras 4.0: estratégias, transformação digital e novas tecnologias. Veja a programação por aqui!
Claudio Bastos – Head of Sourcing Latam South | Ericsson: Antes de começarmos a falar de Compras 4.0, é importante entendermos o quanto as áreas de Compras estão preparadas para essa evolução, não esquecendo que a revolução digital na área de compras começou há muitos anos. Os portais de fornecedores; a troca de documentos digitalizados entre compradores, fornecedores e parceiros; os eventos eletrônicos de compras como RFx e e-auctions; a digitalização de contratos; as assinaturas eletrônicas, repositórios de dados, entre outras ferramentas eletrônicas, já promovem um ambiente para o que se define como Compras 3.0. Então, a próxima onda de Compras 4.0 parte da premissa de que as empresas estão maduras o suficiente na etapa anterior – Compras 3.0. Em minha visão, porém, fruto da participação em Congressos, Seminários, Mesas Redondas e debates com colegas do setor, ainda Compras 3.0 não é uma realidade plena na maioria das empresas brasileiras e mesmo em empresas multinacionais. Existe assim, uma longa jornada para se chegar a esta próxima onda. Bom, voltando ao que defino como Compras 4.0: para mim, a era da digitalização plena com a consolidação definitiva das ferramentas e sistemas de compras, reduzindo em muito a atividade manual e administrativa dos compradores (ainda hoje em torno de 40% do seu tempo), por meio de robôs e da automação - RPA, para direcionar todo o foco no que gera valor ao negócio. Mais que isso, Compras 4.0 é a era da maximização do uso dos dados, das correlações aprofundadas pela Inteligência Artificial – AI, do Business Intelligence – BI, para se estabelecer melhores negociações e também melhores parceiros de longo prazo.
Walter Soubihe – Sócio Diretor da Brace Consulting & Professor da Live University: Os principais impactos serão na integração dos processos e principalmente as repercussões que isso trará no nível de maturidade dos processos e capacitação das pessoas. Muitas integrações vão demandar novos tipos de relacionamento tanto com fornecedores, quanto com clientes, através de IOT e Sistemas Integrados. Por isso a maior necessidade de rever as políticas de gestão de materiais e garantir que as regras de negócios sejam válidas e estejam representadas nos sistemas de informações. Assim, acredito que Compras 4.0 será cada vez mais focada no consumidor individual de informações (interno/externo), desempenhando um papel mais estratégico na flexibilização da gestão da cadeia de suprimentos, com foco no valor agregado sobre custos, através de uma dinâmica pró-ativa e direcionado pela gestão de informações.
João Felipe - Sr Director, Procurement & SC Strategy | Dell: Digitalização e automação de processos e da geração de relatórios. Redução e remoção de papel dos processos. Eu não defino compras 4.0. É mais uma “buzzword”. Automação está acontecendo desde 1980... Agora tá ganhando mais massa crítica. Mais ferramentas, mais fáceis de usar. As macros já existiam no início do uso das planilhas. Agora existem “macros” como Automation Anywhere que atravessam softwares e sistemas, possibilitando maior abrangência quando se constrói uma “macro”.
Norberto Dominguez – Diretor de Compras | Telefônica Brasil: Velocidade, agilidade, poucas pessoas e somente dedicadas a estratégia. Muita automação e robôs. As Compras 4.0 são as que conseguem ter a maior eficiência, com a entrega de quantidade, qualidade e timing correto, cumprindo os compromissos de todas as partes envolvidas.
Claudio Bastos: Recentemente um estudo do The Hackett Group feito em 2018 e distribuído no The Times sobre os temas na agenda dos CPOs (Key Issues Study) mostrou que 38% das organizações que estão se Transformando Digitalmente, não especificamente e somente as áreas de Compras, estão focando em RPA, 33% em Blockchain, 31% em AI e 20% em IoT. 95% destes CPOs acreditam que a Transformação Digital vai mudar profundamente a forma em que serviços e produtos serão entregues nos próximos 3 a 5 anos. Se olharmos o que está acontecendo em termos de Transformação Digital nas áreas de marketing, customer care, industrial e logística das empresas fica fácil entender as preocupações dos CPOs e concluir que Compras 4.0 é uma tendência fruto de uma pressão natural interna dos stakeholders sobre as áreas de compras. Falando de tecnologias, sem dúvidas RPA é uma realidade e grande necessidade, seja para automatizar atividades repetitivas e transacionais, como também para encontrar desvios em análises complexas. A garantia da consistência dos dados por meio de informações registradas com qualidade e em repositórios confiáveis já vem sendo trabalhado como primeira etapa para o uso integral da AI pelas áreas de compras em algumas empresas. Uma segunda etapa, que pode ser em paralelo à primeira, é a modelagem dos dados e a criação de correlações que resultem em relatórios, informações e análises que ajudem a tomada de decisão na área de compras, suportados pela AI. Apesar de muito debatido com colegas do setor de compras, ainda não consigo ver o Blockchain como aplicações que possam adicionar valor para a área de Compras, apesar de alguns poucos usos na área de logística. Certamente algo a ser mais explorado em curto prazo.
Walter Soubihe: Várias tecnologias são utilizadas há bastante tempo e hoje existem novidades principalmente sobre IOT (Internet Of Things) e AI (Artificial Intelligence). O que vai mudar é a velocidade com que as informações chegarão ao setor de Compras através de BI - Analytics, VMI (IOT), etc. Uma tecnologia nova é o Blockchain, essa sim trará uma mudança no gerenciamento de eventos, onde a garantia dos documentos e materiais terão alta rastreabilidade, ajudando na melhoria do OTIF (On Time In Full) e outros indicadores.
João Felipe: Tecnologias para a minha área que estão sendo utilizadas são esses softwares de automação. Há alguma utilização também de AI, não em compras, mas em demand planning. Desenvolvemos um sistema que analisa as previsões de demanda e aponta potenciais áreas com problemas nas previsões.
Norberto Dominguez: Robôs, cobranças digitais, assinaturas eletrônicas. Novos processos suportados em novos sistemas.
Claudio Bastos: Não há duvidas que o profissional de compras terá um diferente perfil no futuro próximo. Ele terá que entender o mundo dos dados, interagir com profissionais desta área e com profissionais de AI para suportá-los no desenvolvimento de modelos que sejam válidos para as categorias de compras. Terão que validar estes modelos, testá-los, ajustá-los e melhorá-los. Estar preparados para um cost breakdown analysis mais aprofundado encontrando as correlações adequadas, analisar o TCO com diferentes modelos e interpretar dados históricos de variações de preços serão competências básicas para os profissionais de compras. Um outro perfil desejado e não menos importante é suportar os desenhos de interfaces amigáveis aos usuários internos (Stakeholders) e externos (fornecedores e parceiros).
Walter Soubihe: Decisões sobre muitas informações demandarão cada vez mais competências de análise, associadas a uma visão mais holística da cadeia toda, com repercussões sobre o TCO da empresa e da cadeia. Portanto conhecimento do negócio e consequências financeiras sobre as decisões serão muito importantes, assim como competências sócio-relacionais, a partir de papéis cada vez mais estratégicos a serem desempenhados junto aos "clientes" (internos/externos) e fornecedores.
João Felipe: Competência necessária que é novidade atualmente é saber operar e utilizar essas ferramentas de automação.
Norberto Dominguez: Deve deixar de lado as atividades rotineiras, ser expert em questões técnicas acerca daquilo que compra e ser capaz de inovar no modo de fazer.